segunda-feira, 30 de maio de 2011

o Amor e o Sexo

Olho para o Sexo deitado na vala duma rua escura, esquecido e abandonado como se fosse um malfeitor duma banda desenhada do Enki Bilal. Depois ergo o olhar e vejo o Amor lá em cima, na varanda de um andar com vista para cidade a beber champanhe, a comer caviar e a ouvir uma música qualquer. Chamo-lhe hipócrita claro, porque está na boa a observar o Sexo como se pudesse viver sem ele. Não pode, claro que não. Ele sabe-o, mas vive como se pudesse. É sempre assim. Por causa das mulheres, claro.

As mulheres sabem que o Sexo pode viver no esgoto e nunca se zanga, pelo menos definitivamente. Basta o Amor chamá-lo uma vez por outra e lá vai ele, como um cachorrinho abandonado na ânsia de algum conforto. Bate à porta, pede licença para entrar e depois senta-se no sofá ou deita-se na cama. Está é proibido de deambular pela casa. Que faça lá o que tem a fazer e depois leva outro pontapé, sai envergonhado e torna a esconder-se num escuro escaninho da rua à espera de ser chamado novamente.

Esse é o problema do Sexo: contenta-se com pouco mas as mulheres vêem-no como o mau da fita. Preferem viver com o Amor, com esse cabrão que passa a vida a pôr as pessoas tristes: homens e mulheres. Porque depois de viver como um Rei na casa de alguém decide ir-se embora sem dizer nada. Uma vez lá me deixou um bilhete inócuo a dizer "adeus, até à próxima" e nada mais. Nem sequer um "obrigado, gostei muito". Filho da puta! Foi nesse dia que passei a tratar muito melhor o Sexo. Se puder digo-lhe "bom dia" e "boa noite" todas as vinte e quatro horas. Trato-o bem, que ele a mim só me faz feliz. Pelo menos tenta, e mesmo quando não consegue torna a tentar. É incansável, o gajo. Um bom amigo.

Não é que eu me tenha zangado definitivamente com o Amor. Não senhor. Aliás, não consigo deixar de gostar desse lado sacaninha que ele tem de prometer muito e dar pouco. Lá lábia tem o gajo. Promete-nos este mundo e o outro, dá-nos uma pancadinha nas costas e nós dizemos-lhe logo que venha viver para nossa casa. Eu cá é que não o torno a fazer, claro. Já lhe disse que agora no meu andar vive o Sexo. O Amor está convidado a entrar sempre que quiser, mas deixe-se de merdas que eu estou farto de o aturar. Não vou expulsar o Sexo por causa dele. Se quiserem que durmam juntos na mesma cama.
  

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